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Na semana passada eu me lembrei de um personagem de filme ou livro que colecionava cartas de baralho que ele encontrava na rua. Pensei comigo, agora que estou em Paris, uma das maiores cidades do mundo, devo observar. Olha que na primeira vez que visitei a cidade até dei uma olhada para ver se não encontrava fotos rasgadas em volta das máquinas, como em Amélie Poulain. Em seguida mudei de ideia: “não, isso é história de filme, quem vai sair com um baralho no bolso e perder algumas cartas por ai?”

Porém hoje, quando saio do metro e estou subindo as escadas correndo, olhando para o chão, voilà! Paro um instante no meio da multidão para pegar uma carta de baralho! Eu viro: um coringa!

Todas as lembranças da semana passada voltam ao meu espírito. Não era em Amélie Poulain que eles colecionavam cartas. Talvez no livro O Dia do Coringa, de Jostein Gaarder? E bom, google me ajudou a lembrar: foi em Sex and the City, uma das minhas séries preferidas. Carrie conhece Jack Berger, um escritor charmoso que colecionava cartas encontradas pelas ruas de Nova York. No final do episodio ela encontra um valet, um príncipe, e pensa que é bom saber que eles estão por aí.

Eu encontrei um coringa, tenho todas as possibilidades pela frente!

La semaine dernière une pensée m’avait traversé l’esprit. Je me suis rappelé d’un personnage de  film ou livre que collectionnait des cartes de jeu qu’il trouvait dans la rue. Je me suis dit, « c’est marron ça, maintenant que je suis à Paris,  une des plus grandes villes dans le monde, il faut que j’observe ». Ensuite, j’ai pensé, « nan, c’est truc de film, qui va sortir avec un je des cartes dans la poche et perdre ses cartes dans la rue ?».

Aujourd’hui quand je descends du métro et je monte vite les escaliers en regardant le sol, voilà ! Je m’arrête un petit instant dans la foule pour ramasser une carte de jeu ! Je la tourne: un Joker !

Tous les souvenirs remontent dans mon esprit. Ce n’était pas en Amélie Poulain qu’ils collectionnaient des cartes. Peut-être dans le livre  Le Mystère de la Patience, de Jostein Gaarder, où l’histoire se déroule  autour d’un jeu de 52 cartes ? Et non, Google m’aidé : c’était en Sex and the City, une de mes séries préfères. Carrie connaît Jack Berger, un écrivain charmant que collectionnit des cartes de jeu qu’il trouvait dans les rues en New York. Dans la fin de l’épisode elle trouve la carte du Jack, qu’il a le sens du prince et pense qu’est bon savoir que les good guys sont là…

Bon, moi j’ai trouvé un Joker : j’ai tous les possibilités devant moi !

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Je suis allée au cinéma voir Camille Claudel 1915. Cette femme me fascine et me fait peur. Le film montre 3 jours de la vie de l’artiste après deux ans de son internement forcé dans un asile pour des malades mentaux près d’Avignon, là où elle ne sculptera plus.

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J’ai bien aimé la façon que le réalisateur Bruno Dumont nous remets dans cet univers claustrée et au même temps paisible. Ses cameras fixes et les portraits qu’il fait des patientes de l’hospice nous donne une idée de l’ennuyeusement qui vivait Camille et les dégoûts d’être proche de ceux qui émettent des bruits constante sans réussir a une vraie communication, qui font des crises, qui sont dehors de la réalité  L’enfer d’être surveillée tout le temps « comme une criminel », d’y avoir perdre sa intimité et de plus qui n’avoir aucun confort, aussi être mal nourrit. Et Juliette Binoche magistral dans son rôle à visage dépourvu de maquillage où ses regardes jouent le rôle principal. J’ai écouté une interview à la radio où Binoche raconte qu’elle avait sur le mur de sa chambre d’adolescente la photo de Claudel, la seule photo qui on connais, c’est marron mais aussi naturel qui une actrice de son porte prendre ce rôle, joue avant dans autre film sur la vie de la sculptrice.

Mais Camille m’a fait peur à cause de les emprisonnement que l’amour pour nos mettre, volontaire ou involontaire, physique ou psychique, en couple ou tout seule. La fin de sa liaison avec Rodin, quand elle avait 30 ans, qui a épouse une autre femme lui mis à un claustre, d’abord volontaire, puis qu’elle a vécu 10 ans recluse dans son atelier au quai de Bourbon avant d’être enfermer dans un asile où elle passe 30 ans, jusqu’à sa mort.

Le film montre une passage où 2 personnages répètent une scène de théâtre, l’homme demande la fille en mariage et elle dit oui sous la condition de n’être pas trompé et Camille tombe en larmes, des larmes que je connais, qui nous brise au moins des souvenirs, au moins de références. Cette amour amer qui nous possède, enlève la raison et nous mettre en prison même quand on vit en liberté.

En 1967, lors de ses adieux à la scène, un journaliste visiblement intrigué par sa décision, demande à Jacques Brel ce qu’il fuyait. Il réfléchit quelques secondes, tête baissé, puis, du ton las de celui qui sait qu’il faut sans fin répeter les choses, il dit…

“Quand quelqu’un bouge, les immobiles disent qu’il fuit.”

(Extrait de Blast, Manu Larcenet)

Em 1967, logo após seu adeus aos palcos, um jornalista visivelmente intrigado por sua decisão, pergunta à Jacques Brel (compositor e cantor de Ne me quitte pas) do que ele fugia. Ele pensa alguns segundos, cabeça baixa, depois, num tom daqueles que sabem que tem que sem fim repetir as coisas, ele diz:

“Quando alguém se move, os imóveis dizem que ele foge”.

(Extraído do BD Blast, Manu Larcenet, uma livre tradução minha).

(clique na imagem para ampliar)

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L’INFINITÉ TOUT PRÈS Kaurinui/Vienna, 1994 – Fondation Hundertwasser, Vienne

Visitei hoje a colorida exposição “Le rêve de la couleur” do artista austríaco Friedensreich Hundertwasser au Centre de la Vieille Charité, no coração do antigo e mítico bairro du Panier de Marselha.

São 4 salas em que a gente se surpreende cada vez em que entra com a explosão de fosforescente, de verdes, azuis e composições de cores surpreendente em desenhos simples com toques de tintas douradas e prateadas que parecem o próprio metal derretido, tal sua capacidade de fazer brilhar. São cores que iluminam, que retumbam, que vibram.

Além de pinturas, algumas bem figurativas do início de sua carreira, também estão expostas serigrafias e tapeçarias, sim tapeçarias vibrantes, vivas e coloridas, “enormes”, não somente pelo tamanho, mas no sentido da palavra em francês – extraordinárias!

Além de pintor, Hundertwasser também foi arquiteto e militante ecologista. O humano e seu ambiente foi o centro de suas obras. Ele fez prédios com árvores nas janelas e criou o manifesto Ton droit à la fenêtre (Teu direito à janela) em que numa habitação coletiva, as pessoas deveriam ser mestres do que esperar de sua janela, quem concebe um imóvel deveria levar em conta os desejos de quem vai lhes ocupar. Com outros arquitetos ele criou imóveis sociais originais com alinhamentos irregulares de janelas, linhas ondulantes, integração de árvores nas sacadas e claro, suas cores explosivas.

Além da exposição, um projeto inspirado na filosofia do artista, propõe ateliers para mulheres do bairro Belsunce, no centro de Marseille. A ideia da associação Viens à Marseille é trabalhar o tema da janela e motivar os moradores e comerciantes a colocar floreiras em 600 janelas, revitalizando o bairro.  Em paralelo, a biblioteca Alcazar, ela mesma no bairro Belsunce, propõe uma exposição de livros e posters originais do artista.

MAISONS JAUNES – JALOUSIE Venise, 1966 – Fondation Hundertwasser, Vienne

Próximo ao Grand Magasin, um novo espaço cultural com café /restaurante solidário, que está em fase de construção, o Petit Magasin. Um estabelecimento  foi revitalizado para receber uma centena de selos criados pelo artista onde o visitante é convidado, com a juda de uma lupa, a conhecer esses quadros miniaturas. Além disso, depois da visita é possível fazer uma pausa café num terraço com direito a cup-cakes et cheescakes. Além de encontrar diversos produtos para levar para casa um pouco das cores de Hundertwasser.

É possível visitar a exposição até 9 de setembro, das 10h às 18h, exceto segunda-feira. Na sexta-feira até 22h. O custo é 8 euros e 5 euros (reduzida) e a visita comentada (que ainda voltarei para fazer), custa 3 euros.


RENCONTRES ÉTRANGES Nouvelle-Zélande, 1994 – Fondation Hundertwasser, Vienne

“Certains disent que les maisons sont
faites de murs. Je dis qu’elles sont faites de fenêtres.” – “Alguns dizem que as
casas são feitas de 
paredes. Eu digo que elas são feitas de janelas. “

Olhando as obras e seus desenhos de casas simples, fica a reflexão de uma amiga que estava comigo: na vida o mais importante é amar e ser amado e uma casa em meio ao verde. Coisas simples, tão difíceis de alcançar hoje em dia.

En regardant ses oeuvres et ses dessins de maisons simples, je garde la réflexion d’une amie qui était avec moi: dans la vie le plus important est aimé et être aimé et une maison parmi le vert. Des choses simples,très difficile de avoir aujourd’hui.

Mais fotos das obras do artista, aqui

Imagem do BD Châteaux Bordeaux, de Cobeyran / Espé

“Regardez autour de vous, c’est bien connu: le vin parle! (…)
Il crie, le vin, il vocifère, il vous chuchote à l’orreille.

Il fait de vous le confident des choses admirables et des projets magnifiques, de tragiques histoires d’amour et de trahisons terribles. (…)

Chaque bouteille vous découvre le parfum d’autres temps et d’autres pays. Et chacune vous offre son bouquet de souvenirs.”

Joanne Harris (j’ai trouvé la citation dans le BD Châteaux Bordeaux – 1. Le Domaine)

Olhe ao seu redor, é bem conhecido: o vinho fala! Ele grita, ele vocifera, ele te sussura ao ouvido. Ele faz de você seu confidente de coisas admiráveis e de projetos magníficos, de trágicas histórias de amor e de traições terríveis. Em cada garrafa você descobre o sabor de outros tempos e de outros países. E cada uma te oferece seu bouquet de lembranças.”

Joanne Harris (encontrei a citação na Bande dessinée Châteaux Bordeaux – 1. Le Domaine  – ver leituras)

Minha teoria sobre o vinho: Teoria nº 43 

Acabo de assistir no cinema o filme De rouille et d’os, um dos primeiros filmes a ser exibido hoje no Festival de Cannes (leia matéria da RFI em português sobre o filme). Do diretor Jacques Audiard, que fez também O Profeta (2009) e De tanto bater meu coração parou (2005), como esses dois últimos tem luta e combate como um dos cenários de fundo, mas não o tema principal.

O filme é a adaptação de um livro, a história começa quando Ali, um segurança de uma boate em Nice cruza seu destino com a treinadora de baleias Stéphanie, interpretada pela atriz francesa Marion Cotillard, que recebeu o Oscar por seu papel em Edith Piaf. Após um acidente Stéphanie tem as pernas amputadas e vai encontrar em Ali uma maneira de superação e aceitação de sua nova vida, seu novo corpo, sua nova condição. Ali é um pai solteiro, pobre e que mora na garagem da irmã e tem uma relação difícil com o filho de cinco anos. De uma maneira realista esses dois mundos tão diferentes vão se encontrar e os três tornam-se sobreviventes de suas próprias histórias.

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O blog anda meio abandonado, mas continuo atualizando a lista de Leituras e a nova seção “Filmes

O primeiro turno das eleições na França será no próximo domingo. Não vou me atrever falar de política, pois os franceses discutem política todo o tempo, entre amigos, com quem quer que seja e com propriedade. Nem o presidente escapa. Em situações públicas as pessoas não o tratam como uma estrela de cinema, mas fazem questionamentos, reivindicações, discutem, conversam sobre seu país com aquele que o comanda. Eles se informam, tem argumentos. E nós que no Brasil preferíamos dizer que é um “assunto que não se discute” mergulhamos no desconhecimento e ignorância. E aqui nem é o espaço. Mas vou dividir algumas observações do que vejo que é diferente no processo do que acontece no Brasil e uma contextualização para quem não sabe nada sobre o cenário político francês.

A sociedade francesa ainda é uma sociedade dividida entre esquerda e direita, embora como quase em todo os países democratas ocidentais, os candidatos principais são quase centristas, moderados, eu diria, caso do atual presidente Nicolas Sarkozy (direita) e François Hollande (esquerda socialista). Os mais radicais são Marine Le Pen (direita) e Jean-Luc Mélenchon (esquerda). Como em todas eleições há outros candidatos menos expressivos. Neste pleito são 10 ao total.

Escutei o horário político na rádio, ao contrário do Brasil, ele não passa em todas as estações ao mesmo tempo e não consegui identificar uma regularidade de horários. Todos os candidatos tem um curto e mesmo tempo para sua propaganda.

Para ter uma ideia do radicalismo, Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen, que comandou até então o partido Front National, disse em seu horário político que a França é para os franceses e que os estrangeiros têm o seus países. Contra imigrantes, homossexuais prega um nacionalismo ultrapassado e conservador. E mesmo assim é dela o terceiro lugar nas pesquisas. É por causa das barbaridades do Front National que você jamais vai encontrar camisetas ou qualquer outra coisa com a bandeira da França, nem em souvenirs para turistas. Portar a bandeira é sinônimo de extrema-direita.

Por outro lado,  Jean-Luc Mélenchon, que nasceu no Marrocos, em seu discurso em Marseille, uma das cidades onde há muitos imigrantes e que ainda ocupam um lugar no centro da cidade mas que aos poucos estão sendo enviados para as cités, citou uma história da criação da cidade. Segundo a lenda, a cidade nasceu de uma história de amor. Como costume, a filha do rei deveria escolher seu futuro marido durante uma festa. Na ocasião, a cidade hospedava alguns gregos e ela escolheu justamente um dos estrangeiros. Em seu programa político na rádio falou sobre o meio-ambiente.

François Hollande é o candidato do partido socialista escolhido pela população em uma prévia organizada ano passado. A ideia de ser o mais democrático possível.

Aqui as pessoas recebem uma espécie de titulo de eleitor mais ou menos um mês antes das eleições. Hoje chegaram as cédulas, os eleitores recebem o nome de cada candidato em papéis separados. No dia das eleições, para agilizar eles já podem levar seu voto pronto, basta passar pelos procedimentos habituais, colocar o nome escolhido num envelope e depositá-lo na urna. Além das cédulas, o programa de cada candidato, assim o eleitor pode se preparar comparar os candidatos e suas propostas. Achei bem organizado. O jornal Le Monde também fez um infográfico comparativo de programas. Veja aqui.

No Brasil para ter todos os programas é preciso ir no comitê de cada candidato, e duvido se encontramos o material conciso.  Para nós brasileiros com urnas eletrônicas, o sistema pareça um pouco ultrapassado. Ah, o voto não é obrigatório.

Como gosto de comunicação visual, achei bem interessante um artigo no site do Liberation em que analisa os cartazes e folhetos de campanha dos candidatosde uma forma até semiótica.

De um modo geral as pesquisas mostram Sarkozy e Hollande muito próximos, mas não conheço nenhum francês que queira que o atual presidente e sua Carla Bruni continuem ocupando o Palais de l’Élysée. Veremos.

“Identifier le bonheur lorsqu’il est à ses pieds, avoir le courage et la détermination de se baisser pour le prendre dans ses bras… et le garder. C’est l’intelligence du coeur. L’intelligence sans celle du coeur ce n’est que da logique et ça n’est pas grand-chose.” 

“Identificar a felicidade quando ela está aos seus pés, ter a coragem e a determinação de se abaixar para pegá-la em seus braços… e guardá-la. É a inteligência do coração. A inteligência, sem essa do coração, é só lógica e isto não é grande coisa”.

Marc Levy, Et si c’était vrai (E se fosse verdade…)

Adorei o livro, mesmo não sendo aconselhável ver o filme antes, a história é muito diferente! Por isso ele me prendeu e hoje comecei a ler do meio para fim e só parei quando terminei.

Além da frase acima, o personagem Arthur tem outras ideias interessantes sobre a vida e relacionamentos, como o cotidiano, que ele compara há uma fruta madura. Só prova seu gosto doce quem tem paciência de passar por algumas rotinas amargas e que são poucos a ter paciência:

“- Je crois que le quotidien est la source de la complicité c’est là qu’au contraire des habitudes on peut y inventer “le luxe et le banal”, la démesure et le commun.

Il lui parle des fruits que l’on n’a pas cueillis, ceux qu’on laisse pourrir à même le sol. ‘Du nectar de bonheur qui ne sera jamais consommé, par négligence, par habitude, par certitude et présomption”.

“Eu acredito que o cotidiano é a fonte da cumplicidade, é lá que ao contrário dos hábitos podemos inventar “o luxo e o banal”,  a desmesura e o comum.

Ele lhe fala de frutas que nós não colhemos, essas que deixamos mesmo apodrecer ao sol. “Do néctar de felicidade que não será jamais consumido, por negligência, por hábito, por certeza e presunção.”

Enfim, lendo o post sobre o filme, desde 2007 queria ler o livro, projeto esquecido. E valeu a pena. Algumas páginas de irreal para nos fazer sonhar, como faz o filme, com um pouco mais de profundidade.

Aqui o que escrevi sobre o filme

Sempre tive a sensação que nasci na época errada. Houve um tempo em que eram os Beatles, depois a má época da profissão de jornalista (como descrevi nesse post), depois quando li Paris é uma Festa, de Hemingway, a sensação era de  época e lugar errado.

E então hoje finalmente assisti Minuit à Paris e lá eu me encontro com um personagem que tem essa mesma sensação! Não sei onde andei que jamais li a sinopse do filme. Estava na lista para ver há tempos pois sempre vejo os filmes atuais do Woody Allen. Não priorizei muito porque pensei que seria algo meio clichê, Paríííí, ah Paríííí, o lance da Carla Bruni. Depois saiu do cinema, depois tentei baixar e vários tinham problemas e finalmente consegui uma versão original em inglês com legendas em francês. Enfim, as horas passaram voando enquanto vi o filme e invejei muito o personagem Gil, como eu queria flanar na Paris de “cette époque là”.

Adoro a moda, os vestidos, as bandanas na cabeça, o brilho e o charme de uma época plena, onde tudo ainda era original, uma geração inteira que podia explorar a arte, a literatura, a música, sem a sensação do “já foi feito”, onde qualquer coisa ordinária se tornava arte, pois foram os primeiros a ter essa ideia. Uma época onde o idealismo e a paixão eram maiores que as coisas cotidianas da vida, mesmo que essas coisas fosse o essencial para sobreviver.

E em falando desta época, assunto para o próximo post é a bande dessinée Pablo, sobre Picasso antes de se tornar Picasso. Estou encantada com o livro e não vejo a hora de sair o próximo volume.

Petanque e cena pastoril

Na Provença, o presépio tem bem mais que a cena do menino Jesus no estábulo cercado por Maria, José e os reis magos. A tradição é montar um presépio numa verdadeira cidadezinha provençal com as cenas do cotidiano,  como o pastor que desce a montanha com suas ovelhas, a plantação de legumes, a colheita de azeitonas, o jogo de pétanque (uma espécie de bocha)… Todo esse cenário é composto por santons, pequenas estátuas de argila feitas à mão nos diversos ateliers do sul da França. No fim do ano, as feiras de Natal reúnem diversos artesãos que vendem seus santons.

No início de fevereiro visitei um dos ateliers em Aix-en-Provence, Santons Fouque. O santonnier explicou o longo processo de confecção, o que explica também porque eles custam caro, nesse atelier, por exemplo, um peça de 2cm são 9 euros.

Menino Jesus em criaçãoPara fazer um menino Jesus, tout petit,como da foto ao lado, são dois dias trabalhando para fazer a criação. Para as expressões do rosto ele utiliza fotos de bebê da internet. Como o processo é lento, são feitos moldes para que ele possa construir cópias mais rapidamente. Mas dependendo do modelo, uma peça pode ter até 10 formas, como é o caso do “Le Coup de Mistral”, um campônes ao Mistral – o vento típico daqui, peça exclusiva de Fouque desde 1952. Para manter as peças com o mesmo material, elas são coladas com um creme de argila. Depois os santons são colocadas numa cava para secar: uma escultura pequena precisa de uma semana, uma grande até três meses. Nesse processo, como a água evapora, elas diminuem cerca de 10%.

Depois eles são colocados num forno que chega a mil graus, são 36h por atingir a temperatura e outras 36h para ele se resfriar. Após esse processo os santons são como tijolos, fortes e resistentes. Então eles passam ao processo de decoração ou pintura a óleo e mais três dias para secar.

Um trabalho manual impressionante que passa de geração para geração. Eles surgiram no século 18 e se tornaram popular no século 19. Assisti um documentário em que um artesão dizia que ele não se tornou artesão, ele nasceu assim e que ele utilizava seu pai e sua mãe como modelo para as peças e sua tia confeccionava as vestimentas para os santons com o tecido das roupas dos mesmos.

Para quem pretende visitar a Provence e ficou curioso, em Marseille tem uma loja próximo ao Vieux Port – ao lado de La Maison du Pastis (a bebida típica do sul da França). Em Aix-en-Provence existem diversos ateliers, a lista você pode conferir aqui. O Santos Fouque que visitei é de fácil acesso, é possível pegar a linha 3 de ônibus em frente ao Office de Tourisme e para na frente do atelier.

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Acabo de falar com meu amigo, o amigo com quem há 5 anos tive essa conversa aqui, uma conversa bouleversante. A parada séria: um transplante de rins. Ele já tinha a mãe como doadora, mas precisava ultrapassar um outro obstáculo: físico e também psicológico. E  no último dia 14 ele fez a cirurgia. E daqui do meu plano, que tomou um rumo completamente diferente e muito melhor, falo com ele e tudo está bem. Tudo virá para melhor para ele também, uma nova vida se abre depois de tantas etapas, hora de fazer novos planos, Fábio!

Final de janeiro recebemos nosso última cesta de legumes da Amap. O local onde buscávamos encerrou a distribuição pois após três anos o número de participantes diminuiu ao invés de aumentar, como era esperado. O sistema de Amap é uma ótima opção de compra de legumes bio, direto do produtor. Você pode pagar por cesta, mas normalmente é pago anualmente para adiantar o dinheiro da produção e a cada semana você busca a sua cesta de legumes em um ponto de distribuição perto de sua casa (eu buscava numa creche), evitando assim a emissão de carbono e poluição com possível deslocamento em carro.

Por cerca de 20 euros você tem direito aos legumes (às vezes frutas também) da estação, outro ponto importante na preservação ambiental. Na distribuição é marcado a quantidade que você pode pegar de cada legume, como por exemplo: 1 quilo de batata, 2 alfaces, 3 abobrinhas… e por aí vai. Uma cesta por semana é suficiente para uma família de quatro pessoas. É possível fazer meia-cesta, basta combinar com uma outra pessoa que será seu companheiro de “panier”.

O desafio é conhecer receitas para os legumes de cada estação. Como o último verão aqui foi o meu segundo verão francês já tirava de letra fazer ratatouille, beringela recheada, lasanha de beringela, molho de abobrinha, abobrinha recheada com carne moída e saladas, muitas saladas, com arroz, cereais ou somente combinação de legumes, normalmente com três variedades de tomates. E também fazer molho de tomate para guardar para o inverno, pois assim se respeita o ciclo de cada estação. Somos acostumados a comer de tudo o ano todo pois por questões de mercado muitas vezes os legumes são cultivados de forma não natural ou são importados (o que acarreta transportes poluentes). No Brasil acho que isso ocorre com menos frequencia, já que é um país tropical em que “se plantando, tudo dá”.

Enfim, mudança de estação e a cesta da Amap era uma verdadeira surpresa a cada semana. Legumes que existem no Brasil e eu nem sabia como traduzir o nome pois não o conhecia, como a acelga. Muitos legumes a base de raízes como nabo, beterraba, aipo e  rabanetes de várias espécies que se confundem com outros legumes e só experimentado para saber o que é. Muitos desses legumes eu jamais tinha comido, vai dizer, nabo é uma coisa que a gente faz cara de nojo antes mesmo de experimentar. Mas a surpresa não era só minha não, conversei com franceses que me disseram desconhecer diversos legumes e a solução: fazer uma sopa! Mas o que fazer com as duas peças de erva-doce que recebíamos toda semana? Sim, aqui é um legume!

E a propósito do último post, posso dizer que enfim estou habituada aos legumes de inverno. O cardápio essa semana por exemplo, não foi nada assim de muito elaborado, mas para quem não cozinhava… teve sopa de abóbora com cenoura, batata e creme fresco; quiche de espinafre com bacon; salada de repolho, cenoura e beterraba com nozes, cubos de queijo e croûtons de alho; acelga enrolada no presunto com molho bechamel e queijo; crepe com molho branco e espinafre. O crepe ou panqueca, foi a solução para terminar o leite que abri para fazer o bechamel. Aqui tem garrafinha de meio litro, mas mesmo assim fica estragando na geladeira. Já o molho branco para os espinafres foi para terminar o creme de leite aberto para fazer a  quiche e utilizei um pouco do creme fresco da Normandia que vai na sopa. E tudo sempre acompanhado de salada verde: alface e “mache” e queijo. Consegui bem equilibrar todos os ingredientes da cesta e os outros restantes na geladeira e fazer um cardápio elaborado – esse é o maior desafio, pois sem conhecer a gastronomia francesa e com os mesmos ingredientes, às vezes é difícil variar. Ser criativo também é difícil pois nem sempre sei que legume vai bem com o quê. Como a acelga com presunto, um improvisado, pois conhecia a receita com endívias.

E agora que não tem mais Amap, sábado é dia de feira. Mesmo com as temperaturas negativas lá fora, amanhã de manhã vou no “marché” onde os mesmos produtores comercializam seus produtos. A ideia é colocar no lugar das cestas um sistema de crédito. Podemos continuar pagando adiantado e cada semana eles descontam o que compramos na feira. No fim acho que será melhor pois podemos escolher os legumes e a quantidade e não vamos acumular batata, cebola e  ovos, que tinha toda semana em porções consideráveis e às vezes era difícil comer tudo, mesmo que eles durem um pouco mais.

Enfim, a dica que fica é que comer saudável e comer bem é fácil. Exige um pouco de esforço no começo, é verdade, ainda mais para quem não sabia cozinhar… E no Brasil é ainda mais fácil, pois a variedade de produtos frescos é muito maior e infinitamente mais barato. Com legumes saborosos reduzi o consumo de carne, melhor para a saúde e melhor para o meio ambiente, é nossos boizinhos do churrasco nosso de cada domingo e do bife de todo dia são grandes responsáveis por emissão de Co2. Adoro uma carne, mas não sinto mais tanta falta e quando como durante todo um fim de semana por exemplo, me sinto mal depois, pesada… O importante é sempre o equilíbrio. Como dizia uma professora de química que tive “tudo é veneno, nada é veneno, depende da quantidade”.

Amadurecer é cozinhar todos os dias com o que tem na geladeira sabendo dosar para que tudo dure toda a semana.

Outros posts da série:

 

Faltando alguns dias para completar 6 meses que estou na França posso dizer que reencontrei o prazer da leitura… em francês! Sempre gostei de ler, hábito que estava meio abandonado nos últimos anos, mas aqui o fato de não ter televisão e não ter carro proporciona mais tempo para leitura. Embora a internet ainda roube muito do meu tempo.

Enfim, com tempo para ler e muitos livros à disposição na biblioteca pública Alcazar e na Fnac que vire e mexe dou uma passada, faltava o prazer de devorar um livro como fazia com meus livros em português. Mas cheguei lá. Ontem à noite terminei de ler as 535 páginas de “Un jour” (Um dia), de David Nicholls. Não foi o primeiro livro que li em francês, mas foi o primeiro assim longo e um livro de adulto que escolhi pelo interesse da história e não porque seria indicado para meu nível de francês.

A dica eu tinha pego neste blog aqui há muito tempo. É muito interessante a história de Emma e Dexter descrita sempre no mesmo dia do ano, 15 de julho, durante 20 anos. Depois de passarem uma noite juntos após a formatura eles desenvolvem uma relação profunda, mesmo que em vários momentos estarão longe um do outro e vivendo experiências completamente diferentes. O sentimento daquela noite permaneceu forte, embora ele, um tremendo galinha, passou muito tempo com medo de assumir seus sentimentos. E ela se protegeu através de uma amizade. Durante quase todo o livro fiquei encantada por esse relacionamento e por não ser uma história de amor convencional , do tipo felizes para sempre. Depois o livro muda e acabei me decepcionando, mas o fato de ter chegado ao fim de 535 páginas, todas em francês, me deu um outro tipo de satisfação.

E uma coisa engraçada, a história se passa quase todo tempo em Londres, mas também em Edimburgo e outras cidades da Inglaterra e uma passagem por Paris – que coincidência comecei a ler quando estava no trem quase chegando a Paris também (em trânsito para a Normandia). Mas o fato de ler uma história em francês originalmente escrita em inglês algumas vezes confundiu minha cabeça. Não sei explicar, tinha que parar e pensar que aquilo não era na França, coisa que nunca acontece quando leio um livro traduzido em português. E mesmo sem conhecer os lugares exatos citados no livro em Londres e Edimburgo, como já estive nas duas cidades, consegui me transportar para o clima da história. E apesar da minha decepção, recomendo a leitura. Já estou com saudades de Em e Dex, me apeguei. Sabe aqueles livros que mesmo que você está ocupada ou tem outras coisas para fazer tem vontade de largar tudo para ler?

Sobre a Alcazar

A Biblioteca Pública de Marseille é um paraíso de livros, DVDs, CDs e BDs. Por apenas 5 euros por ano (para estudantes) e 21 euros para o público em geral você pode pegar emprestado por 3 semanas (renováveis) até 15 itens, pode ser 15 livros por exemplo ou 10 livros, 2 CDs, 2 DVDs de filmes e um DVD de documentário (tem limites para alguns materiais, como DVD que é 2 por pessoa). A sede fica no centro, perto da minha casa, onde tem muitas atividades e exposições. Mas existem unidades espalhadas por bairros e estações do metrô.

Recentemente comecei a utilizar uma das unidades do metrô numa estação que passo quase todos os dias. Lá posso pegar livros e mesmo devolver aqueles que peguei em outra unidade. Quando quero algum livro que está emprestado, reservo pela internet e quando ele está disponível me ligam e me mandam e-mail para avisar e tenho uma margem de vários dias para passar e buscá-lo.

O sistema é parecido em bibliotecas de várias cidades da França, por isso não é raro encontrar muitos CDs de música copiados nas estantes da galera da nossa geração – tudo pego emprestado nas bibliotecas na época de estudante. No meu tempo eu alugava CDs numa locadora e gravava em K7, depois fazia cópia no computador. Apesar da era do mp3 ainda vejo muita gente, principalmente mais velha, saindo da biblioteca com pilhas de CDs. Além de livros de literatura é possível levar para casa livros de gramática e guias de viagem, por exemplo. Quando fui à Barcelona usei um guia emprestado da Alcazar. A biblioteca tem também um espaço para leitura de jornais e revistas e a carta de sócio dá direito a usar a internet também, se não me engano é 45 min por dia.

A façada em estilo Art Nouveau

Na França, além da advertência de beber com moderação em propagandas de bebidas alcóolicas, as propagandas de alimentos vêm acompanhadas da mensagem: “Por sua saúde, mexa-se mais”.

Hoje numa propaganda de Ferrero Rocher notei que tem uma nova campanha: “Evite beliscar entre as refeições”.

Tudo que não fiz nesse Natal de muita, muita comida e em todas às mesas ainda estão à disposição doces, chocolates finos, macarons e frutas secas.

A comemoração mais importante foi o almoço do dia 25 que começou às 13h e terminou às 17h30. Aperitivo com salgadinhos, pistache e cake de azeitona e diversas bebidas: pastis, conhaque, pinot. Sopa de peixe de entrada com croutons e queijo emmental ralado. Depois um prato de ostras e camarão regado a vinho branco de Alsace. No meio para dar uma equilibrada: foie gras com geléia de cebola e de tomate verde (que nós fizemos).

E enfim o prato principal: peru recheado, batatas duchesse (uma batata em flor frita) e champignons. Para acompanhar um vinho tinto de Bordeaux 12 anos. Para terminar salada de alface e queijos. De sobremesa duas tortas: de café e de mousse com cerejas e nougatine e também frutas frescas. Champagne para beber. E enfim o café com “água da vida” de pêra e chocolates finos. A água da vida é uma bebida à partir de uma fruta. Dentro da garrafa tinha uma pêra inteira que cresceu lá dentro e a bebida alcóolica misturada no café perfuma e dá um sabor especial.

Na véspera, a ceia, digamos, foi mais leve, pois não comemoramos o Natal neste dia. Meio estranho para mim, confesso. Começamos com uma sopa de legumes seguido de crepe de salmão selvagem. O prato principal um salsichão branco (à base de leite e não de sangue), tradicional no Natal, acompanhado de maçã assada e marrons. Sobremesa um bolo de chocolate flutuante em uma calda de chocolate. A comilança conseguiu bater essa jornada gastronômica aqui.Para mim só ficou faltando a neve. Como em Marseille é muito raro nevar e aqui em Charente acontece todos os anos tinha esperança. Mas o dia amanheceu gelado com tudo branquinho de granizo e depois veio um sol e o Natal na campanha foi de um dia esplêndido.

A manhã de Natal foi gelada

Saí hoje para ir num evento que eu não estava muito a fim, mas como estava entediada em casa, resolvi ir. Passando pela Praça de La Plaine vi que tinha um “vide grenier” (esvaziar o sótão), uma feira de coisas usadas e antiguidades, como os bazares de garagem dos americanos.  Desisti do evento e resolvi garimpar o lugar pois é preciso tempo e eu tinha de sobra neste final de domingo de sol tímido.

Acredito que eles acontecem uma vez por mês, no primeiro fim de semana, pois mês passado teve um. Tem em outros pontos da cidade e em Aix-en-Provence também.

Fazer compras assim além de gastar menos tem outra utilidade fundamental: reaproveitar, recuperar coisas e não consumir mais e mais. Assim ajudamos ao desenvolvimento ambiental. E se encontra de tudo: roupas, calçados, bolsas, acessórios, utensílios para casa, objetos de decoração, é um paraíso para quem gosta de coisas retrôs como eu, tem caixas, quadros, propagandas antigas…

Como boa brasileira, até que sou bem consumista (comparada com minha irmã até que nem tanto) e enfim, que mulher não gosta de fazer compras? E além do mais adoro como as europeias se vestem e a maioria desse tipo de moda não se encontra no Brasil. Por exemplo, aqui se encontra calça sknny, boca larga, corte reto… Minhas calças são todas justas no tornozelo, porque nos últimos anos essa era a moda no Brasil e não se encontra outra coisa e se você anda diferente te olham torto. Ando bem afim de uma calça com a boca mais larga que fica muito melhor com tênis e sapatilha, sem que o corpo pareça em formato de coração.  Saias mais compridas no Brasil é só para crente, aqui tem de todos os tamanhos e comprimentos. E sem falar nas tentações, lojas como H&M onde se encontra muita coisa barata, sites que vendem roupas de marca com descontos de 50 a 80%, os marchés de rua, que tem três vezes por semana nesta mesma praça que é como estar no Brás em São Paulo. Claro que a maioria das coisas é made in China, como uma saia que comprei a 1 euro. Mas também encontrei meias Dim, uma marca bem conhecida aqui e de qualidade, por 2 euros (nas lojas custam em torno de 6 euros).

Mas voltando ao vide grenier. Comecei olhando os objetos meio de longe, vasculhando as araras de roupas, dei uma procurada nos talheres pois estamos precisando e encontrei parecidos com os que vi no Emaús (uma associação que recupera móveis, roupas e objetos e vende a preços módicos). Eram talheres como os do rei, enormes, pesados, precisando de um polimento que não sei se funcionaria, então hesitei.

O casaco e a echarpe que comprei. Custo total: 1,50 euros

Passei por uma arara que tinha duas echarpes no meio de mais um monte de coisas. Como estou precisando de uma mais quentinha (só trouxe uma por falta de espaço na mala e as outras várias que trouxe são fininhas, de meia-estaçã0) perguntei quanto custava: “50 centimes” – 0,50 centavos de euro!  Bom com esse preço não tinha como não levar!!! Saí com ela enrolada na bolsa já que a outra estava no pescoço.

Foi então que aos poucos fui deixando as araras de roupas, pois em alguns estandes os preços estavam em torno de 2o euros – são brechós profissionais que expõem nesse tipo de feira – e comecei a fazer como todo mundo e vasculhar as roupas espalhadas pelo chão dos estandes também. Muitos já começavam a recolher os objetos para fechar, pena, pensei pois devo ter perdido muita coisa boa, mas nesta hora começam a torrar mais ainda os produtos. Num outro estande, numa rápida olhada numa pilha de roupas descobri um casaquinho tipo blazer de lã, tamanho 40. Resolvi experimentar, serviu! Olhei no espelho: Feito para mim. Quanto custa? 1 euro! Perfeito! Enquanto pegava a moeda, o companheiro da vendedora quis me vender o espelho também! Disse que não, mas ele insistiu, para mim colocar na parede, disse que já tinha um, pena, nem cheguei a ver quanto seria a pechincha.

Vestido de 10 euros da Coiffeur Vintage, Paris

Bom, chegando em casa resolvi olhar a etiqueta da peça. Não era chinês, marca Mexx, endereço de Madri, Espanha, made in Macedonia. Vou olhar na internet e descubro que um casaco dessa marca com material parecido custa 139,95 euros! Além de perder o preconceito com roupa usada, tô com bom olho também!

Não é a primeira vez que compro em brechó, a primeira vez foi em Paris. Encontrei uma loja de ocasião sem querer pelo Marais, na Rue des Rosiers, onde tem vários restaurantes de falafel – que se soubesse que ia parar por lá tinha trocado a baguete por um, que dizem são dos melhores. Fiquei quase louca na Coiffeur Vintage, tinha batas e camisas brancas por 3 euros! Não tinha muito espaço na mala e estava voltando para o Brasil já bem carregada, então comprei uma dessas com detalhes em broderie, adoro essa blusa e na etiqueta: made in France. Encontrei também esse vestido acima por 10 euros.

Casaquinho de 8 euros da Roba Amiga, Barcelona

Na viagem que fiz recentemente a Barcelona descobri a Roba Amiga ao lado do meu hostel. Comprei uma saia jeans por 3 euros, uma blusa por 6 euros (que me lembra um pouco a moda de Desigual, mas como lá uma blusinha custa em torno de 80 euros…) e esse casaquinho bem colorido, (ao lado) a cara da Espanha por 8 euros. Em Londres como não tinha o hábito não explorei brechós e tem muitos também. Em Marseille conheço só uma loja perto da Cours Julien, de vez em quando dou uma garimpada e fiquei sabendo que tem uma outra perto dessa mesma praça do vide garnier. Tenho que ir dar uma conferida, afinal, não tem mulher que não fique feliz fazendo compras e pode acreditar que a felicidade é maior quando se gasta quase nada, afinal o prazer do shopping não vem acompanhado de consciência pesada e fatura de cartão de crédito. E sempre me pergunto: que história tem por trás daquela roupa e além do mais é uma peça única. No final, gastei 1,50 euros no vide granier. O preço da passagem (só de ida) do metrô para o evento que me fez sair de casa.

Coiffeur Vintage, Paris

Conheça um pouco da cooperativa Roba Amiga (vídeo em espanhol)

As bande dessinées (BD ou bédé) são uma paixão na França. Livros em quadrinhos ocupam boa parte das livrarias e da estante aqui de casa. É possível encontrar BDs sobre tudo: ficção, história, biografias e claro, as clássicas HQs de super-heróis, V de Vingança (V pour Vendetta), Mafalda e “Calvin et Hobbes”. A maioria são em edições de grande formato, com capa dura e papel de ótima qualidade, em cores. Há histórias em vários volumes, formando grandes coleções. Não é um passatempo de guri ou de adolescente mas literatura mesmo. Para mim é uma leitura mais fácil, embora claro, muitas vezes é cheio de expressões cotidianas que não estão no dicionário.

A minha paixão por bédés começou com Aya de Yopougon, de Marguerite Abouet & Clément Oubrerie (ilustrações). Li o primeiro volume na casa de uma amiga, numa noite que a conversa dos homens invadiu a madrugada.  É a história de Aya e suas vizinhas no bairro popular  de Abidjan, en Côte d’Ivoire, nos anos 70. Aya, muito séria, só pensa em estudar para se formar em medicina, enquanto suas amigas só querem sair e namorar no hotel de mil estrelas (um motel improvisado nas mesas da feira ao ar livre), uma delas fica grávida e muitas situações engraçadas são retradas. É um pouco adolescente, mas quem não tem histórias dessa época? A escritora é originária de lá e a gente conhece uma África cotidiana e vivante, longe de guerras e misérias. Vire e mexe tem referência às novelas brasileiras. Além de aprender francês, também aprendo algumas expressões africanas num pequeno glossário que há em cada volume . Tem até uma expressão para criticar os “brancos” que falam com o “rrr” puxado, os franceses no caso. Li até o volume 4, mas são 6 volumes até agora. Quem quiser conhecer, vi na Feira do Livro de Porto Alegre em 2010 que a LP&M publicou o primeiro volume em português.

Journal d’un journal, de Mathieu Sapin é um BD mais sério, mas sempre com humor, ainda mais que retrata o cotidiano de uma redação de jornal, neste caso, o Libération. Mídia de esquerda, Libé tem fama de ser “aberto” e a prova é este livro onde o desenhista teve acesso à todos os setores e reuniões, acompanhou jornalistas em reportagens e entrevistas durante seis ricos meses – ele estava lá durante o tsunami de Fukushima, a morte de Ben Laden e o caso DSK. É a visão de um leigo para quem é jornalista, mas a gente conhece bem o funcionamento do jornal e do site, como as editorias são divididas e essa ideia de liberdade e abertura. Uma vez por ano, por exemplo, escritores são convidados a fazer uma edição do jornal.  Um verdadeiro documentário do tradicional jornalismo francês!

E algo que pode parecer super normal me chamou atenção: os jornalistas vão de metrô para suas pautas. Claro! Em Paris ir de metrô é muito mais prático! Mas nunca tinha pensado nisso. Como no Brasil as empresas de comunicação tem carros com motoristas à disposição dos repórteres e fotógrafos, o que dá um certo status também, nunca imaginei que em grandes jornais da Europa os jornalistas saíam em transporte em comum. Mas aqui funciona e é bem melhor que carro… Já fiz muita reportagem de ônibus e metrô no pequeno jornal que fiz meu primeiro estágio, mas depois na RBS, claro, todo mundo ia de “carro da firma”.
OS BDs, a 9ª arte, também invadem a 7ª arte, o cinema (alguém sabe qual é a 8ª?). Um dos mais célebres é Persepolis, de Marjane Satrapi. Não li o livro ainda, mas vi o filme, biografia da escritora e desenhista no Irã dos anos 80, onde através da história de sua vida, a gente conhece o cotidiano de Teerã em preto e branco e como a revolução leva ao exílio e consequentemente a uma crise de identidade. O filme ganhou o prêmio do juri do Festival de Cannes em 2007. Da mesma escritora, Poulet aux Prunes, chegou ao cinema no início de novembro na França (veja o trailer). No site do IMDb o título aparece em português (Frango com Ameixas), talvez esteja em cartaz no Brasil. Li o livro antes de ir ver o filme. Doce, triste e engraçado é a história de um músico que tem seu instrumento quebrado por sua esposa, com quem vive um relacionamento conturbado. Sem sua paixão ele decide pôr fim à sua vida. Também se passa no Irã, mas aqui o que importa é uma história de amor que no cinema ganhou vida em uma alegoria sensível. O único ponto negativo é que o instrumento, um Tar, no filme é transformado em violino. Mas não tira o brilho da história.

O último BD que li também foi de Marjane: Broderies. Enquanto os maridos fazem a siesta, as mulheres de sua família se reúnem para o samovar, um chá onde elas podem “tricotar” à vontade. Mesmo sendo de uma cultura mais conservadora, elas falam abertamente sobre  homens, sexo, casamento… de como os ocidentais veem o sexo, de simpatias para pegar homem, de como uma mulher que não era mais virgem tentou enganar o marido e acabou cortando o pobre na noite de núpcias. Muito engraçado e não há mulher que não se identifique. De extra aprendi as palavras digamos, popular, para o órgão sexual masculino.

Para os homens há Pascal Brutal, A nova virilidade. O personagem é um cara fortão, de vida de excessos, mas que pensa de vez em quando. Rodeado de mulheres, ele também é bissexual (ops, mas isso não se pode dizer).

São centenas e centenas de BDs, o próximo da minha lista é a série Le Photographe. Através de desenhos de Guibert e Lemercier e fotos do fotógrafo Didier Lefèvre podemos acompanhar a jornada a de uma missão de Médicos sem Fronteira nas montanhas do Afeganistão durante a invasão russa. Vi o vídeo que acompanha o livro e são imagens fortes de crianças, homens e mulheres feridos pela guerra, as extremas dificuldades para embalar medicamentos e acomodar no lombo de mulas que muitas vezes caíam montanha abaixo com toda a carga valiosa em cenas chocantes. Mas se vê o trabalho recompensado no rosto de um adolescente que teve sua face estraçalhada por uma bomba e alguns meses após o atendimento que ele recebeu, mesmo precário, teve seu lindo rosto recuperado.

Outras das minhas leituras aqui

Andei renovando a área de links de blogs – como tinha blog ali abandonado! Verdade que blogar não é mais a mesma coisa que antes, muito mais fácil largar qualquer coisa no Facebook ou no Twitter. E também atualizei a seção de leituras. Pretendo escrever em breve sobre alguns desses livros.

Finalmente conheci a Espanha! A quente e calorosa Barcelona me recebeu entre os dias 18 e 23 de outubro. Pela primeira vez viajei sem me programar muito. Só faço isso quando vou para algum lugar que tem alguém morando e vai me ciceronear pela cidade. Na viagem de sete horas de trem li as indicações resumidas do Guia Criativo para o viajante independente na Europa e mais umas olhadadelas no guia da Lonely Planet em francês que peguei emprestado na biblioteca pública de Marseille. Fiz um pequeno roteiro para cada dia com o essencial, sem encucar com aquela lojinha ou museu que o guia trata com a mesma importância de lugares principais e que no fim acaba só tirando tempo da sua viagem para procurar o tal lugar. Mas isso teve um preço, poderia ter dado uma esticadinha em Figueras para conhecer o Teatro-Museu Dalí. A viagem tinha escala nessa cidadezinha há duas horas de Barcelona. Como não fui eu quem comprei as passagens e não as vi até a hora de embarcar, acabei perdendo a oportunidade de adiar um pouco a ida ou o retorno para conhecer esse universo surrealista. Mas no fim, foi uma das viagens mais agradáveis que fiz, vi tudo o que eu queria com tempo de sobra e ainda descansei, alguns dias dormi até mais tarde ou fiz a siesta dos espanhóis.

Mas nunca imaginei que eu teria tantos problemas para me comunicar na Espanha (tá bom que eu já desconfiava nos últimos tempos) ! Para começar espanhol se parece muito com o português e sempre tive interesse pelo idioma. Já fiz cursos, tenho colegas sul americanos e entendo tudo que eles falam quando conversam entre si, mas simplesmente não saía nada da minha boca que não fosse francês. Eu até tentei, mas misturava tudo, tinha receio de dizer algo que fosse em português e não em espanhol e muitas vezes era a mesma palavra. Mas minha mente e meus “pensées” em uma língua que não a minha maternal já estão condicionados ao francês. Aí recorria a língua universal: o inglês, mas também não saía muito. Acho que se eu tivesse falado português teria simplificado tudo, mas enfim, eu queria hablar español, ou melhor castellano, já que em Barcelona a língua mesmo é o catalão. E o pior era entender, falar algumas palavras soltas e ouvir as pessoas irritadas porque eu não tinha explicado que ia tomar o café na padaria e não levá-lo, depois que ela já tinha colocado no copo de isopor. E ele que dizia enquanto eu falava com as pessoas: tu parle français, Fernanda!

Ficamos hospedados num hostel na Carrer Hospital, bem pertinho de Las Ramblas. É um hostel meio diferente. Na verdade é um apartamento com vários quartos, uma sala e cozinha. Na chegada tu telefonas, a pessoa vêm até o hostel, tu pagas ele te dá as chaves. Depois na hora de ir embora é só deixar a chave na porta. A vantagem é ficar em um quarto privado e ainda ter uma estrutura como “estar em casa”. No nosso caso o banheiro era coletivo, mas sempre limpo (uma pessoa vinha todos os dias para limpar), nunca teve fila para tomar banho e só não era silencioso porque era no centro, mas no apê era tranquilo. A desvantagem: no último dia um casal francês com uma criança pequena ficou no quarto ao lado, a partir das 5h da manhã essa criança começou a chorar como se estivesse sendo espancada e assim ficou por mais de uma hora, com certeza. Num hostel normal não aceitam crianças, eu acho, mas vire e mexe tem os festeiros para te acordar.

Port Vell

Chegamos no meio da tarde e ao descer na estação de metrô já dei de cara com o mercado de La Boqueria, há uma quadra do hostel. Logo o primeiro passeio foi Las Ramblas, de cabo a rabo, Plaça Catalunya de um lado, Monument à Colón do outro e Port Vell e o espetáculo do sol no fim da tarde. Depois de explorar os arredores, sem querer entramos na Carrer d’Avinyó, rua onde Picasso frequentou uma “maison close” e que talvez o tenha inspirado a criar “Les Demoiselles d’Avignon”, obra inaugural do cubismo. E assim descobrimos as pequenas ruelas do bairro gótico onde comemos tapas com sangria num charmosinho bar que dizia que tudo era “hecho com mucho amor”.

No dia seguinte uma passadinha em frente ao Palau Güell, primeira grande manifestação artística de Gaudí (10 euros para entrar). Depois fui ao Museu Picasso onde andei por mais dessas ruazinhas tranquilamente, olhando as lojinhas, até me deparar com a fila de espera de 40min para entrar no museu. Mas valeu a pena ver as maravilhas que ele pintava quando tinha apenas 17 anos. E todas as suas releituras de As Meninas, de Velázquez. Depois ali pertinho o Parc de la Ciutadella, com o Castell de Tres Dragors, uma fonte enorme (parecida com o Palais Longchamp aqui de Marseille) e o parlamento catalão. Do ladinho o Arc do Triomphe, bem diferente do de Paris e de Marseille. Depois caminhando ao redor me deparei com o Mercat de Santa Caterina, o atravessei e cheguei na Cathedrál, de arquitetura gótica, claro . Perto dali descobri uma loja só de leques! Um mais lindo que o outro, tinha uns de renda de 250 euros! Como não tive sucesso com as castanholas, acabei comprando um leque para mim. Segundo a vendedora, uma brasileira, as espanholas usam mesmo o leque contra o calor – o que constatei mais tarde numa danceteria. Continuei a marcha e cheguei a praça Sant Jaume, onde fica o Palau de Generalitat. Segui andando no que eu achava que era a direção do metrô e acabei nas Ramblas, na rua em face do hostel. Dei uma olhada nas lojas e voltando para uma pausa descobri ao ladinho um brechó. De cara já saquei uma saia de 3 euros, uma blusa de 7 e um casaquinho bem colorido, bem espanhol por 8 euros! Dava para passar e “gastar” muito mais tempo nesse brechó!

À noite hora da tradicional paella na tradicional Plaça Reial e mais sangria. Resolvemos dividir uma sobremesa para provar algo espanhol. Pedimos creme catalão e a surpresa: era o mesmo crème brûlée! Só um pouco mais amarelo… sem graça, já que é totalmente francês ça! Depois a programação é caminhar pelas ruazinhas para descobrir a noite, que depois da janta ainda é bem vazia…

Sagrada Família

Terceiro dia, hora de enfim conhecer as obras de Gaudí e que atraem todo mundo à Barcelona. Primeira parada: Sagrada Família. Parece aqueles castelinhos que a gente faz com areia molhada na praia. Sinceramente não é bonita, mas sim, é grandiosa. Fila enorme, onde já se conhece as façadas de cada lado, já que a espera vira quadra, mas até que andava rápido. Comprei a entrada com a casa Gaudí e sem os elevadores (que dá para pagar separado depois se você decidir subir, as escadas estão interditadas). Por dentro, ao estilo basílica, bem propícia à visitação da multidão que a invade todos os dias, cada lado uma decoração diferente. Tudo é muito diferente! O teto, as escadas, as colunas em cada etapa com formatos diferentes, surpreendente! Se tem acesso também à pequena escola de tijolo no formato de oca de índio projetada por Gaudí para os filhos dos trabalhadores, seu escritório, maquetes, máquinas que mostram como foram esculpidas as colunas e o túmulo do mestre que está na cripta e se vê por um vidro, do alto.

Teto da Sagrada Família

Depois Parc Güell, uma subida e tanto até chegar as escadas rolantes em plena rua que ajudam a subir até a colina onde fica mais uma obra maluca e tortuosa de Gaudí. É onde fica a casa onde ele morou nos últimos anos e que hoje é um museu, onde móveis projetados por ele estão conservados. Bom lugar para viver, eu diria. O parque é lindo, só não mais agradável porque óbvio, milhões de turistas, principalmente nos famosos bancos sinuosos com pedacinhos de azulejos, a marca de Gaudí. Depois a Manzana de la Discórida, com três casas famosas, a principal delas a Casa Batló, de Gaudí, com sacadas em forma de caveiras, a casa Amatler e a Casa Lleo Morera. A casa Batló é aberta à visitação pela bagatela de 18 euros! Acabei não entrando. Perto dali fica um de seus prédios famosos, La Pedrera, que acabei deixando para ir outro dia pois eu pretendia visitar por dentro. Voltando a pé e logo se está na Plaza Catalunya novamente.

Pausa no mercado de La Boqueria para comprar chorizo, presunto ibérico, queijo, vinho, azeitonas e pão para o “apéro”. Enfim, adaptamos as habitudes francesas. E também os itens para fazer café da manhã no hostel e encontrei adivinhem? Dulce de leche! E bom, se eu achava que a Argentina com suas media lunas e o tango já tinham pego muita coisa da França, em Barcelona tive certeza que também é cópia da Espanha com seus empanados e doce de leite. À noite, show de Flamenco. Queria muito mesmo ver e descobri no guia um lugar que a entrada era apenas 6 euros e tinha espetáculos a cada 1h – tem outras casas de show onde o ingresso varia de 30 a 50 euros. No fim, a sala Tarantos é um pega turista, o show dura 30 min e os outros 30 min são para encher a sala para o próximo espetáculo. Tem dançarina e a banda, mas quase uma amostra, que não é grátis. Andando pelas ruazinhas entramos num clube que tinha uma banda de jazz, bem boa. Mas chegamos cedo para os padrões espanhóis. Pelas 2h quando fomos embora é que o lugar tava começando a bombar.

Parc Güell - Gaudí

Dia seguinte Fundació Joan Miró no Parc Montjuic e mais uma fila, mas que foi a mais curta de todas e valeu muito a pena. Acho que não conheci muito da coleção permanente, mas a exposição L’Escala de la Evasió trazia uma cronologia completa do artista, desde seus primeiros quadros da fazenda da família até séries completas que consagraram o artista catalão. Segundo o site da Fundação, “mais de 50 obras de coleções públicas e privadas de todo o mundo”. Muita sorte. A visita deve ter durado umas boas 3h. Mas do lado de fora o tempo não estava colaborando muito. Uma volta num dos jardins do parque, meio a esmo, sem um lugar para comprar qualquer coisa para comer e com a chuva iminente, voltamos para o hostel e fizemos a siesta. Achei que o castelo de Montjuic não era assim tão interessante e pegar o bondinho em dia nublado também não, se alguém já foi pode me dizer o que perdi…

Bar Celta Pulperia

Acabamos saíndo para a noite barcelonesa à meia-noite. Finalmente entramos no ritmo! A essa hora tinha gente nas ruas, nos bares. Uma cerveja no rock e havy metal bar Tequila, cerveja na rua comprada dos indianos por um euro e uma parada por um policial por estarmos bebendo na rua. Acabamos saíndo das estreitas ruas e saboreávamos a cerveza pelas Ramblas quando o policial perguntou: “espanhol, inglês”? E em inglês ele disse que beber na rua dava multa. Perguntei se vender na rua dava também, afinal ninguém estava incomodando as dezenas de vendedores. Mas enfim, melhor não engrossar. Dissemos que íamos colocar no lixo, metemos no bolso, andamos mais um pouco e continuamos bebendo. Danceteria e aí me reencontrei com o jeito quente e latino. Pessoas dando show ao dançar salsa, gente calorosa e que me lembrou muito o jeito brasileiro, tão diferente na França… E a festa começa tarde, muito tarde mesmo.

Último dia, mais compras em La Boqueria para um piquenique e depois caminhamos até a Casa Milá, La Pedreira. Mais uma bizarrice de Gaudí. Acabei desistindo de entrar, 15 euros. Faz a conta quanto sai visitar todos os lugares de Gaudí?! Acho que a Sagrada Família foi a escolha acertada. Almoço-piquenique no Parc de Joan Miró, vista da Plaza de España e arredores de um shopping que tem logo ali à frente e seguimos pela avenida das fontes que dá no Museu de Arte Catalã, um belo prédio e tudo à volta magnifíco. Ao pôr-do-sol começa o espetáculo das fontes mágicas. Simplesmente sensacional! Efeito de luz e música na fonte principal e todo o prédio do museu tem cascatas de água que descem pelo parque que fica numa colina também. Lindo, lindo, lindo.

Para encerrar a noite, a semana, a viagem, tapas no balcão no Bar Celta Pulperia, com vinho branco servido no tradicional copo que é uma tigelinha, as mesmas estão coladas na parede atrás de cada banco para colocar o casaco. Comemos a tradicional tapas de polvo, e o bichão tá lá, para todo mundo ver. Também patatas bravas, lulas bebê e tortilla. Um último gostinho do melhor de Barcelona e da Espanha e uma das minhas melhores viagens.

Minha versão preferida da série minimalista de Vahram Muratyan:

Repara que as legendas são trocadas, em francês na imagem de New York, em inglês na imagem de Paris, para quem não conhece a referência poder identificar…

Veja a séria Paris vs New York – a tally of two cities completa  aqui

Post em tempo real, acaba de acontecer e estou surpresa! Meu interfone tocou, antes de eu atender ouvi o barulho da porta do prédio se abrindo, um outro vizinho abriu a porta: “é propaganda”, pensei. Mas abri a minha porta para ver o que era. Um, dois, três policiais entram no prédio. Primeira coisa que se passa na minha cabeça: bom tá tudo certo comigo, sou legal aqui.

Aí vejo que eles começam a conversar com os vizinhos do térreo e entendo o motivo da “visita”. Desde o fim de semana, quando o vizinho comprou uma lixeira de compostagem, ele vem fazendo “churrasco de folhas”. Queimando as folhas das árvores que caem no jardim. Estamos no outono aqui, apesar do calor de verão que ainda faz durante o dia. Algum outro vizinho ao ver ou sentir a fumaça, chamou a polícia, bem e eles vieram atender o chamado.

No Brasil quantas vezes sua casa foi assaltada e a polícia esteve lá?

Algumas coisas que venho observando e descobrindo sobre o modo de vida e a sociedade francesa me mostram o quanto o Brasil precisa evoluir. Tá certo que somos um país jovem, muitos anos a menos de experiência, mas se essa coisa de mundo globalizado não serve para a gente cortar caminho e usar as experiências de quem já caiu e levantou para aprender, serve pra quê, então?

Imprensa e formação de opinião

O curso de línguas que começou hoje na Université de Provence não é apenas um curso para aprender français. Por aí já se tem uma ideia de como as coisas funcionam por aqui. Fiquei até um pouco desapontada que por estar num nível mais avançado terei aula só três vezes por semana, 3h por dia, começando às 10h! (ritmo da Provence, mas o fato é que a professora mora em Marseille, como eu, aliás, e como o curso tinha flexibilidade de começar entre 9h e 9h30min ela resolveu logo meter às 10h que é pra não precisarmos acordamos cedo). Mas durante o curso de verão a coisa era bem mais puxada, das 8h30min às 12h30min, tá certo que não tinha trânsito na estrada, bem menos gente no ônibus e que ninguém aguentaria nesse ritmo o ano todo. Mas enfim, retomando, além do curso regular tem ateliers temáticos. Eu pensava que isso era um bônus, até mesmo para justificar as horas do visto, já que as aulas não compreendem todo tempo exigido. Mas não, tem que fazer pelo menos quatro ateliers, com avaliações e tudo. Eu já tinha logo escolhido uns 8, ia fazer no oba-oba, ia preencher todo meu tempo enquanto não tivesse trabalho (e largaria a oficina se fosse necessário) e para não ficar de bobeira esperando entre um atelier e outro que me interessa, já que voltar para casa não vale a pena.

Hoje fui no atelier Europa-Estados Unidos: pontos comuns e divergentes. Tem um grande grupo de americanos num programa de estudo de francês, mas minha ideia era desenvolver melhor o discurso pois é preciso saber se exprimir para passar num exame de proficiência em francês. Mas fui surpreendida com este atelier que vais nos fazer refletir sobre a sociedade que queremos para nós no futuro, visto que a primeira e principal divergência entre a França e os Estados Unidos é o socialismo e o capitalismo. Vamos ver através da história como esse comportamento da sociedade francesa surgiu, como é na Europa, a origem da Comunidade Europeia, como a entrada da Turquia no bloco pode mudar tudo. E a impressa, como a diferença entre a imprensa americana e francesa se traduz na sociedade. E aí o professor disse: jornalistas escrevem artigos e isso é o que fazem estudantes universitários, um bom artigo pode ser publicado na imprensa. Aqui não é necessário ter diploma de jornalista para ser um. E aí me dei conta em como nossos cursos de jornalismo no Brasil sequer nos preparam para escrever um artigo acadêmico, que dirá um artigo com opinião, de posição, num jornal. É um curso técnico para servir empresas privadas que nos enquadram de tal forma no conceito editorial que eu perdi minha opinião. Sério, não sei mais opinar, eu que entrei na faculdade cheia de vontade de escrever editoriais. Não, meti a cela de cavalo da neutralidade, da isenção e tudo que fiz foi escrever sobre acidentes de carros, pequenos assaltos, o famoso buraco de rua. E o professor pincelou um pouco a lógica da imprensa americana, como a CNN com seus ao vivo, direto do lugar, mas sem reflexão, sem o depois. Isso custa dinheiro. “Mostrar o Afeganistão na tevê não são três dias de reportagem, são pelo menos 15 dias subindo montanha para chegar num vilarejo, isso sim é reportagem”, exemplificou. Os franceses não, todos, todos eles têm opiniões, sobre tudo, fundamentadas, bem embasadas. Hoje o professor disse, nunca digam: “je ne sais pas (eu não sei), ninguém diz isso aqui, isso mostra que você não tem personalidade”. E me dei conta que a nossa imprensa no Brasil cada vez reforça mais ao povo – que já tem uma educação precária – ao je ne sais pas!

Educação

E aí entra a educação. Aqui as crianças aprendem a ler aos cinco anos de idade. Aula não é só 4h por dia, é o dia todo. A criança entra de manhã e sai pelas 17h. Em compensação tem a quarta-feira de folga (que deve ter um monte de tema de casa). E a maioria segue esse ritmo de estudo até o mestrado, pois universidade é de graça, classe média tem direito a bolsa para financiar os estudos, para morar onde os estudos que você deseja estão. Trabalhar só depois de concluído o mestrado que vai te dar uma especialização da área escolhida (se não me engano são três anos de faculdade, um pouco menos que no Brasil).

Socialismo

A diferença entre essa sociedade socialista posso exemplificar não com o seguro social, que funciona perfeitamente e é pago pelo governo, ainda que muita gente pague um plano a mais, privado, descontado no salário que te rembolsa quando você faz um óculos de grau por exemplo. Somente para ter essas vantagens extras, não para diminuir a fila no hospital. A diferença que vejo, por exemplo, no comércio. As lojas fecham 19h e se você está lá dentro, ainda em dúvida sobre o que levar, ninguém faz questão de te agradar e diz para ficar a vontade, não, a loja fecha às 19h, você tem que ir, é o direito do trabalhador (ou o chefe que não quer pagar horas extras). Mas como todo mundo faz assim, ninguém vai sair falando mal da loja. O shopping fecha depois, às 20h!!! Nada abre aos domingos, exceto as padarias (que os franceses não vivem sem suas baguetes), mas fecham num outro dia durante a semana para compensar. O mercado fecha para o almoço às 12h45min e só abre às 15h. Isso no centro de Marseille. No verão, açougue, mercearias, padarias, lojas tiram férias e fecham as portas por 15 dias, um mês. Os trabalhadores aqui tem direito a férias de cinco semanas. Os encargos de um funcionário saem bem caros para um empregador, é um outro salário completo, como se o trabalhador aceitasse ganhar a metade, mas ele sabe que seu dinheiro será empregado e ele terá em retorno segurança, saúde e se já tem sua formação universitária, está garantindo que seus filhos vão ter também.

Eu que vivi de trabalhar em uma redação de jornal ou no comércio da família tinha um modelo de vida americano, de correria, de engolir café, de mostrar trabalho às custas de descanso, saúde, estudo. De ficar na loja até a hora que convir ao cliente que chegou na hora de fechar… e acho que esse modelo de sociedade aqui permite muito mais de aproveitar a vida, estar com os amigos, o tal bon vivant dos franceses. E se todo mundo faz assim, não vai pegar mal eu fechar minha lojinha e tirar uns dias de folga no verão. E sobretudo, sobra tempo para a família e talvez faça diferença em aqui não ter o mesmo problema das drogas que tem no Brasil, que cada vez mais invade lares de todas as classes sociais.

Comunismo e transporte

Esses dias descobri que tem algumas cidades na França que tem um modelo “comunista”. Não sei bem a real extensão disso, mas não é pejorativo, são cidades que tem mais planos sociais para seus moradores. Por exemplo, em Aubagne, aqui do lado de Marseille, o transporte público é gratuito. Isso mesmo, ônibus de graça. Aqui, não em Marseille, falo na Europa em geral, o transporte funciona. Bom, estou sendo um pouco injusta, é que Marseille não tem metrô que cobre toda a cidade, mas funciona no horário, ônibus é pontual e tem informações em todas as paradas de ônibus. Sério, não sei como a gente anda de ônibus no Brasil, é na base do cobrador me mostra onde descer porque muitos pontos nem tem nem a cobertura de parada. Mas o transporte é gerado pelo estado, se não é mais, pelo menos um dia foi. As linhas de trem de Paris, por exemplo, estão para ser privatizadas, infelizmente. Mas é ela que paga as linhas pequenas… não sei como será, enfim. Mas foi feito um estudo em Marseille, se parassem de cobrar o transporte da população, sairia mais barata a manutenção dos sistema todo, pois seriam menos funcionários para cobrar bilhetes, fiscalização… para ter uma ideia, nos ônibus que levam à praia, chega a ter cinco fiscais para garantir que a gurizada em férias não vai pegar ônibus de graça. Mas para estudar, seja de trem, metrô, sai praticamente de graça o transporte.

Sequestro de crianças

Nesse fim de semana duas crianças foram raptadas. Elas saíram para um passeio com um casal de vizinhos que habitava há pouco tempo o bairro e não voltaram. Os pais foram até a polícia e a cada cinco minutos tinha um alerta no rádio, na tv. O estado tem um dispositivo para isso, são colocados anúncios insistentemente, mas muito insistentemente. Se você viu alguma coisa não deve interferir e sim comunicar as autoridades. Poucas horas depois as duas irmãs foram deixadas num estacionamento, sã e salvas, provavelmente pelos sequestradores, que com os alertas na mídia ficaram sem saída.

Enfim, não é tudo perfeito, não sou uma conhecedora de causa, estou começando a melhorar na língua para ler mais artigos, me inteirar da situação política, mas são pequenas observações do cotidiano que mostram alguma coisa desse velho mundo que é de primeira, não à toa. E acho que um país naturalmente rico como o Brasil podia dar muito mais a sua sociedade.

UPDATE: Faltou um ponto negativo, a universidade está com problemas de falta de salas de aula. Hoje, 20/9 não tive aula. Até propuseram uma sala em outro ponto da cidade mas complicava a vida da professora então iremos recuperar em outro momento. Não sei se tem mais estudantes que o previsto ou é só questão de organizar bem os horários e locais. Mas seja qual for o problema, em breve vai acabar pois um prédio novinho tá sendo construído ao lado…

Estou devendo aqui centenas de posts, eu sei, mas retomei o blog e além de mostras as paisagens naturais do Sul da França, de pequenas cidadezinhas em Charrente, também quero escrever sobre os roteiros na cola de pintores. Já estive em Arles, a cidade do Van Gogh, em Amsterdam onde está o seu museu, em Aix-en-Provence, a cidade de Cézanne, onde já visitei praticamente todos os locais consagrados pelo artista. Os dois que faltam ainda farei, pois é a cidade onde vou estudar.

Nesta terça-feira, o canal France 2, através do programa Secrets d’Histoire apresentou os jardins de Giverny, onde Claude Monet viveu e pintou muito de suas obras. “Il a vécu la lumière” (Ele viveu a luz, diz um de seus historiadores).

Além de mostrar paisagens encantadoras, entrevistar historiadores, familiares e até uma psicanalista, o documentário faz reconstituições minunciosas, como se estivéssemos assistindo a um filme sobre a vida e obra do pintor impressionista. O lugar, onde hoje é a Fundação Monet, totalmente restaurado pelos mesmos mecenas de Versailles, fica há uma hora de Paris. Mesmo as fotos dos jardins evocam às obras de Monet, imaginem visitar a casa, o atelier, os jardins por onde Monet criou e deixou suas impressões… A próxima vez que eu for à cidade luz vou ter que encaixar uma visita no meu roteiro. Para quem não pode ir até lá por enquanto e entende um pouco francês pode se maravilhar com o documentário, clicando aqui (não sei se fica disponível por tempo indeterminado ou só na semana da emissão). Quem não entende francês e ama artes, vale dar uma espiadinha mesmo assim.

Não basta compartilhar o mesmo teto, a mesma cama, a pasta de dente. Mesmo que cada um tenha seu computador, neste mundo de gigas, em que espaço nunca é suficiente, é preciso também compartilhar HD externo.

Outra teoria sobre a vida a dois

Férias a gente sempre come mais do que o habitual, certo? No Interior, sempre se come mais do que na cidade, certo? Agora imagine férias no interior, só que na França, onde bien manger faz parte da cultura! Aqui o ritual de apéro, entrada, prato principal, salada, queijo, sobremesa e café com chocolate é seguido à risca todos os dias, no almoço e no jantar. Porém na última sexta-feira deu-se o acaso de haver um almoço com os tios da minha família francesa e sermos convidados para jantar na casa de uma das primas. Encontro de família no interior pede refeição especial e eis a minha maratona à mesa:

Tudo começou com um café da manhã normal em Poitiers: baguete de cereais, brioche, manteiga, geléia de morango feita na fazenda, um bolo tradicional de queijo da região de Vienne que sobrou do apéro da noite anterior, café e suco de laranja. Chegamos na casa da família perto das 13h onde os tios já esperavam e começamos o apéro: salgadinhos, amendoim, frutas secas, cubos de queijo ao sabor de frutos do mar, tudo regado a pineau, bebida típica de Charentes, bem como o cognac, pastis (a bebida típica de Marseille) e outras bebidas não alcóolicas como Schweppes e sucos. Cada um faz sua escolha. Eu optei pelo pineau para variar.

Após os aperitivos, melão de entrada. O primeiro prato principal (sim, teve dois, pois era uma ocasião especial) uma folha de alface com um pedaço de peixe e tomates, regado a maionese feita em casa, como para a salada de batata no Brasil. As porções francesas tem tradição de serem pequenas, mas ainda bem! Mesmo quando alguma comida é muito boa eu não repito, pois sei que se eu o fizer, não vou aguentar chegar até o fim da refeição. E muitas vezes já é servido empratado, então tem que comer até o fim. Para acompanhar a carne branca, vinho rosé. E o pão, claro, que acompanha toda a refeição, mas mesmo amando pão, tenho deixado somente para limpar o prato a cada tipo de comida diferente, pois se não fico ainda mais empanturrada.

O segundo prato, carne de vitela com abobrinhas refogadas e feijão verde, uma espécie de vagem mais fininha. Nem tinha terminado minha taça de rosé e para acompanhar a carne vermelha, vinho tinto. Um Bordeaux de 1995. Há 16 anos na minha vida eu nem pensava em beber…

Hora da salada verde. Alface acompanhada de uma travessa com quatro tipos de queijos diferentes (isso é normal todos os dias). Não sou muito fã de queijo, mas uma vez na França, estou tentando abrir um pouco meu paladar, então provei os de vaca, tirei a casca que normalmente é a parte onde tem os fungos e sei lá o quê que deixam famosos aquele tipo de queijo. Já queijo de cabra não descem de jeito nenhum. E aí a hora mais esperada: sobremesa! Uma porção bem generosa de compota de pêssego vermelho com um biscoito ou cookie para acompanhar, já que a compota é um pouco ácida. Para beber? Champagne, bien sûre.

Terminado o almoço, quase 3h após ter sentado à mesa, hora do café acompanhado de barras de chocolate meio-amargo.

Saí pesada da mesa e preocupada se o jantar naquele mesmo dia também seria assim. Já eram 16h, não teria tempo para a digestão! Mas no final da tarde, um lanchinho, sorvete (cornetto e magnum) e bebidas (cerveja, ice tea, sucos).

Depois das 20h seguimos para o jantar. De aperitivo, amendoins e fatias de baguete com patê de coelho. Dessa vez bebi meu tradicional pastis, pois o pineau é adocicado e o cognac um pouco forte para mim.

Começa o jantar, de entrada melão com presunto defumado. O verão é a época da fruta e eles são tão docinhos que às vezes como na entrada e na sobremesa. Com o presunto, que vale lembrar que aqui não é como os fatiados no Brasil que parecem de plástico, o sabor adocicado do melão com o salgado do presunto tem um gosto particular e muito bom. O prato principal (ufa dessa vez era só um!): fatias de pato assado, bem mal passado, ao natural e marinados em mel e figo (delícia), suflê de cenoura e batata refogada/frita. Para beber, vinho tinto de 2004. De sobremesa Torta Charlotte, que é feita com a tradicional bolacha champagne, de morango e chocolate. A noite pulamos a parte do café para bem dormir, mas depois de toda essa comilança a noite não foi tão plácida.

E agora me pergunto: como os franceses são tão magros???

Quase 4 anos depois que escrevi esse post aqui o ciclo se fechou. Cheguei a Poitiers na noite de 24 de agosto último, passei todo o dia 25 lá e voltei no dia seguinte pela manhã. O suficiente para conhecer essa cidade universitária que é muito calma, praticamente vazia no verão. No roteiro: igrejas, igrejas. O Museu de Belas Artes vale a pena somente pela sala de Camille Claudel (uh la la, se encontra de tudo na internet, alguém colocou aqui fotos de todas as obras, eu respeitei e não fotografei).

Como são lindas e delicadas suas esculturas! O carro-chefe é a obra La Valse (ao lado), onde um casal dança num delicado movimento do bronze esculpido. Mas a escultura L’abandon me impressionou um pouco, pois retrata a dor profunda dessa mulher abondonada por Rodin, seu grande amor e mestre que a levou à loucura, no sentido mais literal.

Mas os caminhos que me levaram a essa ville são totalmente diferentes do que eu planejei. Naquela época eu tinha um amigo que morava em Poitiers, jogava na liga de vôlei da cidade. Como eu queria realizar o sonho de conhecer a Europa, iria para Espanha estudar espanhol e depois obviamente conhecer Paris e dar uma esticadinha até Poitiers já que teria hospedagem gratuita. Acabei não juntando grana suficiente, deixando outros acontecimentos da vida adiarem esses planos e enfim, vim para a Europa pela primeira vez no ano passado num roteiro completamente diferente: Londres para aprender inglês, Holanda e Escócia de visita, Marseille na França para aprender francês e acabei conhecendo muitos outros cantos da França, tanto no Sul como na região de Charente. Estive perto de Poitiers, mas somente este ano fomos visitar son frère que lá habita. E foram por caminhos completamentes diferentes que o meu fabuloso destino me trouxe à França. Na época do post um comentário se eu estava pensando em morar na França. Não, na época a ideia era só visitar. E vejam só no que deu.

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