pearl.jpgAssisti ao filme A Mighty Heart, baseado no livro Coração Valoroso, que Mariane Pearl escreveu sobre o seqüestro do seu marido, o jornalista Daniel Pearl que foi morto no Paquistão por terroristas que colocaram o vídeo de sua execução na internet. Tudo aconteceu em 2002, Mariane estava grávida e a agonia durou cinco semanas.

Eu li o livro lá por julho do ano passado, num período conturbado. Enquanto eu lia sobre a paixão, o amor e o companheirismo dos dois e me identificava com suas promessas e os ideais dele que ela tomou para si em uma busca pela verdade que ultrapassou as do jornalismo, mas uma busca pela paz no mundo, sem idealismo, embora com um preço alto, eu vivia um momento parecido. Quando entrei nos capítulos das investigações difícieis e confusas na busca por Danny, algo havia se perdido de mim também. Foi o telefone que não tocou mais, verdades descobertas na internet, uma pessoa que desapareceu e eu fiquei perdida. Foi quase insuportável ir até o fim do livro pois a solidão que ela se impõe no momento de ter o filho é brutal e da qual eu queria fugir. Tanto que nem escrevi sobre o livro aqui.

Quando soube que a Angelina Jolie faria o papel de Mariane me decepcionei um pouco, pois sua aparência em nada lembrava essa francesa descendente de cubanos. Meses atrás vi um making of e aí vi no quanto ela se transformou nessa personagem real. E Angelina conseguiu passar a força dessa mulher, que mesmo grávida e num momento de desespero, conseguiu manter a lucidez, e mais que isso, ajudar na busca pelo marido baseada naquilo que ela conhecia de seu companheiro e no que acreditavam, sem perder o otimismo e a esperança de um mundo de paz como ele queria, mesmo quando seu mundo desmoronou. É uma mulher inspiradora.

Posso dizer que vivi um pouquinho de seu desespero ao ter alguém na guerra que também sumiu num dia. Mas chequei os e-mails e investiguei seus relatos a ponto de me tranquilizar e confiar que tudo estava bem, enquanto os outros pensavam em me proteger. Foi algo infinitamente menor, mas dá para compreender um pouco mais as suas atitudes.

 É uma pena que o filme se concentra mais nas investigações, mostrando pouco a ligação dos dois. Mas a cena em que ela recebe a notícia que ele está morto é forte, impossível de imaginar só lendo o livro. É uma cena que só se identifica quem já passou pela dor de perder alguém que se ama…

Mas se o livro foi um divisor na minha vida, o filme também foi visto num momento muito simbólico. Ambos estarão para sempre em meu coração.