Ontem eu cheguei em casa e sentei com o laptop na sala. Liguei o rádio, fiz um lanche. Igualzinho quando eu morava sozinha em Porto Alegre. A diferença é que lá eu ligava a televisão e aqui eu não moro sozinha, mas sim com mais seis pessoas. Três são gaúchos, então no meu primeiro findi teve churrasco e chimarrão. E nessa semana temos mais dois moradores, os pais de uma colega. Aos poucos o pessoal foi chegando e ficamos batendo papo. Nem sempre isso acontece, tem dias que nem vejo as pessoas. A convivência é bem pacífica e nem tem fila para tomar banho. Já me sinto bem adaptada à casa e aos poucos à cidade, essa big city que parece tão pequena com suas clássicas casinhas. Não andei muito ainda pelo meu bairro, que mais parece a Indía, tem mais lojas de saris do que de roupas ocidentais. Vou mais até a avenida principal e me limito a chegar a estação do tube ou o supermercado. Mas saio todos os dias e tirando as diferenças do Brasil, de resto é como se eu estivesse em casa. Nunca pensei que eu pudesse me adaptar tão facilmente a uma mudança tão grande. Claro que estar rodeada de brasileiros facilita e ao mesmo tempo atrapalha. E como tem brasileiro em Londres! Sempre se encontra por tudo que é lugar.

Nos primeiros dias tudo é novidade, eu mandava e-mails para a família e amigos contando detalhes de como são as coisas aqui, como os caixas eletrônicos serem na calçada, os carros poderem estacionar de ambos os lados se a rua é de mão dupla, o transporte é o que há de mais caro, mas muito eficiente, bem mais que o trânsito, por isso não sinto falta nenhuma do meu carro. No meu primeiro dia no tube era aquela tensão, em pé em frente a porta cuidando cada estação. Depois eu comecei a sentar e ler o jornal free que tem no metrô. Hoje até voltei cochilando. Eu saio bem cedo de casa para ir para aula e a central line é muito lotada, mas muito lotada, mas aqui funciona o esquema das pessoas esperarem quem está dentro sair do vagão para entrar, ficam do lado direito da escada rolante e o que mais digo é sorry, porque se alguém mal encosta em ti se desculpa. Coisas pequenas, mas é nelas que sinto grande diferença e gosto de viver aqui. Sem contar a segurança. Tem coisa melhor que poder sair de noite e voltar para casa sem se preocupar? E voltar de metrô ou ônibus…

Uma das coisas que eu achei que me deixaria muito de mau-humor é o clima. Eu não gosto do inverno e sempre odiei chuva. Pois aqui chove todos os dias, sem exceção. Já acostumei a nem usar guarda-chuva, coloco uma boina por causa do óculos e pronto. Em caso de chuva forte até uso, mas preciso logo de um casaco impermeável com capuz que daí não carrego mais o guarda-chuva mesmo. E tem lugares de roupas muito baratas aqui, comida no super também é barata e tem muita variedade de comida congelada e boa, coisas que a gente não encontra aí.

Nesses 10 dias eu vi um russinho e um chinezinho muito fofinhos no trem que me fizeram sorrir. Já vi gente vestida de tudo que é jeito e ninguém repara nos outros. Isso é outra coisa boa daqui. Nenhum inglês foi mal educado comigo, sempre tive ajuda quando precisei, coisa de até me acompanharem até a esquina para me mostrar onde fica o que eu estava procurando porque eu não entendia bem o que eles diziam. Vi no metrô umas meninas fantasiadas de animais indo para uma festa e ninguém dava bola. Até que um cara entrou e pego de surpresa começou a rir e logo pediu desculpa, mas todo mundo se divertiu com a situação. Aliás, o tube na sexta-feira é muito animado porque todo mundo está indo para a festa. Fiz amizades que ainda parece que estou lá em Poa com as gurias. Eu vi um pai puxando a filha por uma coleira, um mendingo atirado num dos corredores das estações do metrô com duas latas de cerveja em volta e rindo à toa e já consegui fazer piadinha com os ingleses.

Ainda não visitei todos os pontos principais, mas estou fazendo com calma. E no Big Ben e na Tower Bridge quero voltar de noite. O Palácio de Buckingham achei bem chinfrinho. Ainda não vi a troca da guarda. Já fui na The National Gallery e vi muitos, mas muitos dos quadros que estudava em slide na aula de História da Arte, inclusive os girassóis de Van Gogh, obra do do Degas, Cézanne, Monet, Renoir, Klimt. Tem muita obra acadêmica, que não gosto muito, mas não posso deixar de dizer que fiquei impressionada em como a pintura parece real de um jeito que a fotografia nunca vai conseguir traduzir. Também fui na exposição The Real Van Gogh, The Artist and His Letters, na Royal Academy of Arts. Impressionante! Tem obras de museus do mundo todo, inclusive do Museu Van Gogh, de Amsterdã, e algumas obras de coleção particular. Tem desenhos e mesmo neles tem uma luz que na pintura é incrível de um jeito que só Van Gogh fazia. Sem contar as pinceladas e nos tons dos azuis apaixonantes. A exposição é paga, não é muito barata, e todo dia tem filas enormes. Não sei se são só turistas ou se realmente as pessoas se importam. Mas fica todo mundo calmamente andandando praticamente em fila para ver as obras e não dá confusão. E vi algumas esculturas com os belos movimentos de Rodin no museu Victoria and Albert Museum. Ainda tenho que voltar nesses lugares porque é impossível ver tudo num dia só, sem contar outros mil lugares para visitar ainda.

Londres é multicultural e por isso é um pouco difícil ter contato com a cultura inglesa, ainda não me sinto em completa imersão. Mas passado o perído de adaptação, esse é meu próximo objetivo.